domingo, 13 de dezembro de 2009

A morte devagar - Martha Medeiros

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Pensar é interessante...



Um por todos



José Luiz Teixeira
De São Paulo

 
Utopia, de Thomas Morus (foto: reprodução)


A compra das Casas Bahia pelo Grupo Pão de Açúcar, realizada recentemente, seria proibida na minha ilha.
Assim como a "Utopia", de Thomas Morus, também tenho na imaginação uma pequena porção de terra cercada de água por todos os lados na qual estabeleceria minha sociedade ideal.
Ali não seria permitido que uma só pessoa ou grupo fosse dono de grandes corporações - como está acontecendo agora com o empresário Abílio Diniz que passa a deter, sozinho, o controle de várias redes de lojas de varejo do Brasil.
Na minha ilha, cada cidadão só poderia ter uma unidade de cada coisa - seja lá o que fosse.
Só poderíamos ter uma casa, um carro, um sítio, um supermercado, um barco, um banco, um ônibus, um avião, uma fábrica e assim por diante.
Devo esclarecer que não tenho nada pessoal contra Abílio Diniz, homem que merece admiração por seu extraordinário talento empresarial.
Cito-o apenas como exemplo, com a seguinte questão: por que só ele precisa ter todos os supermercados que existem?
Não poderia ser apenas o proprietário da unidade da Praça Pan-americana, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, uma das mais chiques da rede?
Somente com a renda desse ponto, imagino que levaria o mesmo padrão de vida que tem atualmente, com casa, sítio, barco, viagens, incluindo-se aí até eventuais caprichos de sua jovem esposa.
Os demais supermercados da rede pertenceriam a pessoas diferentes, todos integrados obviamente a uma cooperativa para que mantivessem a eficiência do negócio.
Perderíamos um bilionário; em compensação, ganharíamos vários ricos, todos eles consumindo praticamente os mesmos bens de consumo do Abílio Diniz.
A indústria e o comércio venderiam mais lanchas, mais carrões, os restaurantes caros estariam mais cheios...
Outro exemplo para ilustrar o sistema econômico da minha ilha: os ônibus.
Por que todo o transporte coletivo de uma cidade precisa ficar nas mãos de três ou quatro empresários que acabam monopolizando o setor?
Seria muito melhor se cada ônibus tivesse um proprietário, como já ocorre em São Paulo com as cooperativas de ex-perueiros.
Parece que essa experiência está dando certo, apesar das guerras que eles travam entre si por território e linhas da periferia. Mas essa é outra história.
O fato é que não se pode dizer que um perueiro, dono de seu próprio micro-ônibus, seja rico. Não se pode negar, igualmente, que ele esteja melhor de vida do que um motorista assalariado.
Há muitos outros casos a comprovar que nesse sistema (capitalista, é bom lembrar) a distribuição da riqueza seria mais justa.
Poderia me alongar no assunto, mas quero poupar de mais devaneios aqueles que tiveram a paciência e a generosidade de chegar até o final desta crônica.
E antes que alguém me mande ser utópico naquele lugar (na minha ilha, espero), que me responda: por que não?
Teríamos mais milionários, mais ricos, mais classe média e, sem dúvida, os pobres não viveriam na...(perdão, presidente, pela má palavra) miséria.


Sábado, 12 de dezembro de 2009, 07h46 Terra Magazine


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Paródia dos pronomes oblíquos

Pronomes Oblíquos (Ilariê)
Tá na hora
Tá na hora
Tá na hora de usar
Os pronomes pessoais
Empregando sem errar.
I la ri la ri la ri ê
Ôôô
Se o objeto for direto
Usa o lo e usa la
Tem também o no e na
E ainda o o e a
É a turma do Chicão que vai dando o seu alô.
Pra usar o lo e o la tira o r, s, e z
Mas se for um som nasal, usa o no e usa o na
E no final tiver vogal, usa o o ou ou usa o a
E la e lo e lo e la r, s, z
E no e na e no e na som nasal
E se for uma vogal, o e a
É a turma do Chicão que vai dando o seu alô
E se o objeto indireto
Usa o lhe, o lha e o lho
Só se for para pessoa porque
Pra coisa não dá não.
E a ele e a ela, tanto fez e tanto faz
Pode ser para pessoa, coisa ou animal
I I la ri la ri la ri ê Ôôô I la ri la ri la ri ê Ôôô I la ri la ri
la ri ê Ôôô
E o me, te, se, nos, vos? você pode usar geral
Tanto pode ser direto, e indireto é normal
I I la ri la ri la ri ê Ôôô I la ri la ri la ri ê Ôôô I la ri la ri la ri ê
Ôôô

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pensamento positivo - Superinteressante


O segredo do pensamento positivo

Uma atitude positiva faz um bem danado. Mas ninguém consegue ficar rico só com a força do pensamento. Saiba como isso funciona.


Texto Michele Veronese
Ilustração Carlo Giovani Rossato
Edição Mariana Sgarioni

Pense. Em qualquer coisa. Numa casa, por exemplo. Imagine-a pintada de branco, com janelas azuis e cercada por um terraço com escadas que levam a um jardim. Ali estão margaridas, girassóis e uma árvore frondosa. Nos 10 segundos que você levou para chegar até aqui, uma avalanche de sinais nervosos ocorreu no seu cérebro. No córtex (camada periférica dos hemisférios cerebrais), milhares de neurônios foram acionados e trocaram informações em frações de segundo.

Arquivos de memória foram vasculhados e, sem que você pudesse controlar ou prever, a imagem de uma casa surgiu em sua mente. Por isso, você deve ter sentido um bem-estar, uma vontade de possuir essa casa de verdade. Dentro de nossa caixa craniana ocorrem milhares de outros processos - esse que você acabou de perceber é o que podemos chamar de pensamento positivo, uma idéia que, nas prateleiras das livrarias, vem ganhando contornos de magia.

Ela se deu bem

Basta ter uma atitude otimista para atrair o que deseja. Dinheiro, amor, saúde, sucesso. Tudo. Qualquer coisa pode estar ao seu alcance se você pensar positivamente, com firmeza, dizem os autores de auto-ajuda. "Aquilo em que você mais pensa ou se concentra se manifestará", garante Rhonda Byrne.

Essa australiana de 52 anos alega ter desenterrado uma verdade preservada a sete chaves por sábios, filósofos, cientistas e gente de sucesso. E revelou sua descoberta no filme O Segredo, que vendeu mais de 2 milhões de cópias em dvd no mundo inteiro. O livro homônimo, lançado por ela, também virou um fenômeno de público, com 6 milhões de exemplares vendidos em apenas um ano.

Byrne resume o que descobriu em frases de efeito como: "Sua realidade atual ou sua vida atual é resultado dos pensamentos que você tem". Hoje, uma legião de fãs segue seus ensinamentos.

Esse mistério alardeado por Byrne não é nenhum segredo. Já faz tempo que diversos escritores têm divulgado as benesses do pensamento positivo. Um dos primeiros a falar sobre o assunto, Norman Vicent Peale, autor de O Poder do Pensamento Positivo, em 1952 já dizia: "Mude seus pensamentos e você mudará seu mundo".

Hoje, a lista de livros que ensinam a usar os poderes da mente é quilométrica. Há o médico indiano Deepak Chopra (As Sete Leis Espirituais do Sucesso), o casal de videntes Esther e Jerry Hicks (Peça e Será Atendido), a palestrante motivacional Sandra Taylor (A Ciência do Sucesso), apenas para citar alguns dos mais badalados. Outro autor conhecido é o físico Amit Goswami (O Universo Consciente), cujo livro inspirou o filme Quem Somos Nós? (2005), espécie de documentário de auto-ajuda que recorre à física quântica para falar dos potenciais da mente.

Em comum, todas essas teorias têm o fato de recorrer a argumentos científicos para afirmar que é possível fazer o cérebro funcionar a nosso favor e gerar resultados surpreendentes. No caso da física, especialmente da física quântica, os autores nos comparam o tempo todo com elétrons. Bastaria utilizar a técnica correta para colhermos os benefícios na saúde, trabalho e relacionamentos. É bom lembrar que, aos olhos da quase totalidade dos cientistas, essas teorias não fazem sentido nenhum.

Por outro lado, a todo instante, deparamos com situações que parecem mostrar o contrário. O que dizer, por exemplo, de pessoas que parecem ter descoberto a fórmula secreta do sucesso e realmente se dão muito bem em tudo o que fazem? Ou dos otimistas a quem nada parece abalar? Ou ainda daqueles que dizem ter vencido doenças graças à atitudemental positiva? Relatos não faltam. Pois bem.

Dentro deste caldeirão em que tudo parece ter o pensamento positivo como pano de fundo, você vai descobrir o que se fala a respeito, o que é fantasia, o que já foi comprovado e o que ainda permanece um mistério.



Peça, acredite e receba. Simples assim é a fórmula apresentada por Rhonda Byrne, autora de O Segredo. "No momento em que você pede alguma coisa, e acredita, e sabe que já a tem no invisível, o Universo inteiro se move para deixá-la visível", diz. No livro e no filme de mesmo nome, não faltam relatos de gente que conseguiu a cura de doenças, o amor ideal ou até um colar de diamantes como num passe de mágica. O segredo ensinado por Byrne é observar o Universo como uma lâmpada mágica - e se comportar como o Aladim. Ao esfregar a lâmpada - ou seja, ao pensar positivamente - seus desejos se materializariam.

Na base dessa afirmação, está a crença de que os pensamentos são magnéticos e emitem uma freqüência poderosa capaz de influenciar as pessoas e coisas à nossa volta. De acordo com esse raciocínio, quando você pensa positivo, entra numa freqüência positiva e atrai coisas benéficas para a sua vida - o pensar negativo, segundo Byrne, causa o efeito inverso.

O guru indiano Deepak Chopra, outro astro que ensina como usar a mente positiva em seu benefício (ele orienta celebridades como Madonna), usa outro discurso para atingir o mesmo fim, ou seja: saúde, sucesso e riqueza. Segundo ele, o corpo deve ser entendido como um campo de energia que precisa estar em equilíbrio. Suas técnicas de meditação ajudariam na tarefa de chegar lá.

São centenas de teorias para quem deseja potencializar a mente. Os autores vêm de áreas diversas, da gestão de carreiras e esportes, passando pelo espiritismo e pela psicologia. Muitos afirmam ser especialistas em "potencializar a mente" e na "transformação pessoal". Geralmente, elaboram suas teorias a partir das próprias experiências de sucesso e auto-superação. Dentro dessa babel de ensinamentos, porém, algumas idéias acabam se repetindo. É o tripé energia, magnetismo e holismo.

Energia, magnetismo e holismo

Para a física, de modo bem resumido, energia é a capacidade de um corpo executar um trabalho ou realizar um movimento (por exemplo, o fogo é uma fonte de energia empregada para cozinhar alimentos que, por sua vez, fornecem energia ao corpo). No caso da auto-ajuda, contudo, é bom você esquecer o que aprendeu na escola.

Energia, segundo muitos desses autores, é uma força que anima todas as coisas, uma fonte de bem-estar e amor. Com o treinamento correto, ela poderia ser direcionada para todas as finalidades, inclusive as mais cotidianas - por exemplo, receber uma promoção no trabalho, achar uma vaga na garagem do shopping e evitar os quilos extras mesmo comendo além da conta. "Quando nos distanciamos dessa energia, surgem problemas, medos, carências e doenças", diz a escritora Esther Hicks, em seu livro com o sugestivo nome Peça e Será Atendido.

O magnetismo (capacidade de alguns materiais se atraírem ou se repelirem) é outro conceito bastante apropriado pela literatura sobre pensamento positivo. A crença é que a mente atuaria como um ímã capaz de vibrar com força suficiente para atrair objetos e acontecimentos. Só que a idéia clássica da física de que pólos opostos se atraem não vale aqui. Pensamentos positivos atrairiam experiências positivas - e vice-versa.

O escritor Michael Losier ilustra com um clássico exemplo: se você acordar mal-humorado, der uma topada na cama, queimar a torrada e não controlar a raiva, irá vibrar negativamente e atrairá vários problemas para o seu dia. No livro Lei da Atração - O Segredo Colocado em Prática, ele chama essa seqüência de causas e efeitos de Lei da Atração e diz que ela "sempre se harmoniza com sua vibração, seja ela positiva, seja negativa".

Já o filme Quem Somos Nós? propagou outra idéia bastante popular: todos estamos interligados. "Você e eu somos um, há uma conexão invisível entre todas as coisas", diz o filme. Esse conceito pode ser resumido numa única palavra: holismo (do grego holos, que significa "todo"). É mais ou menos aquela frase que diz: "Uma borboleta que bate asas no Japão pode causar um tornado no Brasil".

Alguns autores dizem que a nossa mente atuaria como a borboleta. E você, leitor, adestraria esse inseto como bem entendesse. Dessa forma, seria capaz de causar benefícios em série. Por exemplo: se você quiser muito uma resposta positiva de um emprego, vai conseguir não somente o trabalho como uma excelente colocação, um aumento de salário, viagens pelo mundo inteiro e logo um grande amor com quem terá 3 filhos lindos. É um efeito dominó.



A ciência, de um modo geral, vê o assunto com desconfiança, uma vez que faltam trabalhos acadêmicos reconhecidos para comprovar que essas teorias realmente funcionam.

Em geral, os autores costumam apresentar muitos relatos de pessoas que afirmam ter tido sucesso com as técnicas de pensamento positivo - mas relatos isolados não provam nada, por mais incríveis que sejam. Existem normas que devem ser seguidas para um estudo ser levado a sério. É preciso observar o fenômeno, criar uma hipótese para explicá-lo, depois coletar dados relacionados àquilo que se estuda e, por fim, testar se a hipótese é realmente verdadeira. Esse processo pode demorar alguns anos.

O problema é que as teorias sobre o pensamento positivo costumam se apropriar de conceitos científicos para validar idéias que, como acabamos de falar, estão fora do campo da ciência. Nesse caso, a crítica mais aguda vem de áreas como a física e a neurociência. "Muitos tomam uma teoria e tentam generalizá-la para tudo", diz o neurofisiólogo Roque Magno de Oliveira, professor da UnB.

Um exemplo é o uso do conceito de energia, que passou a significar algo diferente do que diz a física. "Na verdade, essas pessoas consideram energia aquilo que eu considero empatia. Isso não tem nada a ver com física, e sim com a psicologia das relações humanas", afirma o físico Ernesto Kemp, professor do Instituto de Física da Unicamp.

A física também rejeita a badalada Lei da Atração, que diz que os pensamentos criam campos energéticos à nossa volta. "O pensamento como energia, como uma espécie de campo que age a distância, é algo que nunca foi comprovado cientificamente", explica Adilson José da Silva, professor do Instituto de Física da USP.

Ou seja, nunca ninguém detectou esse tal "campo energético". É verdade que, no cérebro humano, ocorrem estímulos elétricos o tempo todo. Mas, segundo Ernesto Kemp, os pulsos elétricos liberados durante as sinapses são tão fracos que a probabilidade de o campo eletromagnético que você está gerando com suas sinapses interagir com o de outras pessoas é nula.
O que acontece no cérebro?

Os neurocientistas, por sua vez, concordam que o estado de ânimo pode, sim, influenciar o nosso organismo de várias maneiras. Os hormônios associados ao estresse têm grande influência na consolidação da memória. Ou seja, a idéia de que pensar positivo faz bem não é absurda. "Quando estamos muito estressados, o nível dos hormônios secretados é alto e influencia negativamente esse processo", afirma o neurocientista Martin Cammarota, pesquisador do Centro de Memória da PUC de Porto Alegre.

De acordo com ele, não temos controle total sobre nosso cérebro nem sobre os processos químicos e celulares que ocorrem nele. "O ser humano é uma soma de circunstâncias. Por mais que você pense positivo, seus níveis de colesterol no sangue não vão diminuir somente em conseqüência disso", ressalta. No caso do colesterol, dieta e exercícios são algumas das circunstâncias a ser consideradas.


Mas pensar positivo funciona?
Funciona. Mas não como a maioria das pessoas gostaria. O pensamento positivo não vai engordar sua conta bancária do dia para a noite. Nem fará carros e diamantes orbitar ao seu redor. Porém, segundo várias pesquisas, uma atitude otimista pode influenciar muito a resistência do organismo às doenças.

PARA SABER MAIS

O Tao da Física
Fritjof Capra, Cultrix, 2000.

O Universo Autoconsciente
Amit Goswami, Aleph, 2007.

Como a Picaretagem Conquistou o Mundo
Francis Wheen, Record, 2007.

Imposturas Intelectuais
Alan Sokal e Jean Bricmont, Record, 1999.








Conto - primeira parte

Um brinquedo divertido. Todos queriam ficar com ela, porque ela tinha charme e personalidade. Mas o ser humano como é cruel, esquecia que, embora ela fosse uma prostituta de luxo, ela tinha um coração. Um dia ela foi como todas as outras moças, sonhou em constituir uma família, porém por descasos da vida, entregou-se ao sexo e à decepção. Passou a ser usada e usar. Que ficassem com ela então, pensava. Ela iria ganhar dinheiro ou desfrutar dos rapazotes inexperientes que tanto a desejavam. Entrou no jogo. Mesmo assim, Madalena – nome verdadeiro – acreditava que algum dia iria encontrar o anjo que ela sentiu que viria salva-la daquele lugar e daquelas pessoas asquerosas como julgava Letícia – nome falso. Era inevitável Letícia passar despercebida. Seu olhar transmitia uma segurança e calma que parecia ter pleno sentido de sua vida. Todos a cobiçavam, mas nas noites tristonhas ou madrugadas, ela rezava. Incrivelmente, ela rezava. Não queria aquela vida para ela, mas era a única que tinha no momento. Muitos clientes que ela se relacionou ela chegou ter esperança de que a tirariam de lá. E muitas vezes foi com tremenda surpresa quem diziam que não podiam, pois ela era uma prostituta e já beirando os 30 anos. Ninguém gostaria de ter filhos com ela, chegou um mancebo ( recém descabeçado) a falar-lhe. E ela , com toda a sua tempestuosidade, disse-lhe que não queria filho, para ela isso era uma idiotice de uma sociedade hipócrita que nem amar os filhos amavam, mas os tinham para não deixar os bens e não  por amor. Mera informalidade. O rapaz ficou perplexo. Ouvir isso de uma prostituta. No mesmo instante diferiu-lhe um bofete. E ela orgulhosa, solicitou que batesse novamente, porque ela estava acostumada apanhar de porcos. O rapaz irritado retirou-se. Letícia , então, começou a chorar. Como sempre fazia nas madrugadas quando se banhava. Ela era triste, sim.
 Sua alma foi muito marcada e machucada, desde o momento que se apaixonou por um amigo. Não se apaixonou , na verdade, amou. Eles chegaram a ser grandes amigos. E esse foi o erro dela. Ela não o contou que era prostituta, uma vez que ,ainda que fosse meretriz, ela lia muito. E as conversas no shopping, nos parques e nas danceterias eram mais que alegres. Eram a felicidade. E com o passar do tempo, ela se apaixonou , mas sabia que não podia ama-lo, já que ele pertencia à elite. E ela era um prostiuta de luxo, mas a sua origem ela não podia esquecer. Uma favelada.
Ela nunca esqueceria a viagem em que os dois fizeram rumo à Praia da Solidão. Ele quis demonstra a ela que sabia surfar, pois quando era adolescente chegou quase a ganhar um prêmio. E ela sentada na areia deslumbrava o seu príncipe ( príncipe pra ela, pois não tinha coragem de dizer que o amava). Deslizando pelo mar...  Depois de várias demonstrações, ele saiu do mar e pergunta a ela se não tinha vontade de aprender, ela respondeu que seria incapaz de fazer inúmeras acrobacias. Era deveras medrosa. Ele somente riu. Disse a ela que o esperasse ali, por largaria a prancha e queria contemplar o final do entardecer. Letícia simplesmente pensava na vida. O quanto estava feliz por amar ou descobrir o que era amar. Não havia explicações, ainda que ela tivesse estudado e lido muito sobre o amor, ele realmente não tinha explicação. Era como explicar a gênesis. Alguém a tocou no ombro, assustadoramente ela se virou, entretanto era ele. Somente riu. Ele ofereceu-lhe algo. Perguntou o que era. Era maconha. Ela disse que não fumava. Ele achou estranho, mas para ela não era, fumava cigarro somente por uma interpretação. E ela já estava fatigada das cenas. Agora que descobrira o amor queria senti-lo. Ele insistiu. Recusou-se novamente. Mas ele era insistente. Isso a irritou tanto que se levantou. Ele correu atrás dela e ela falou que não havia gostado da brincadeira e que estava decepcionada, pois ele havia dito a ela que parara de usar drogas. Ele ficou supreendido quando olhou os olhos dela, ou melhor, o olhar dela. Não era amizade que via ali, era algo novo para ele. Assustou-se e parou de olha-la. Jogou o cigarro de maconha longe e a acompanhou. Em casa, enquanto um temperava o peixe o outro fazia as saladas, conversavam sobre animosidades  e riam muito, ela principalmente. Tiago fazia umas caretas que a encantavam, tinha um jeito sedutor ao falar, ao mesmo tempo que era rico, sua alma era doce. Resolveram beber um vinho. E a bebida foi fazendo efeito.